Simule o problema de Monty Hall e entenda por que mudar de porta vence a intuição
Pontos-chave deste artigo
Entre três portas, uma esconde um carro novo e as outras duas escondem bodes.
A pessoa jogadora escolhe uma porta primeiro.
Em seguida, a apresentadora (que conhece o conteúdo de todas as portas) abre exatamente uma porta perdedora.
A pessoa precisa decidir se mantém a primeira escolha ou se muda para a única porta que continua fechada.
A conclusão é cristalina: mudar de porta é esmagadoramente vantajoso (probabilidade de vitória de 2/3).
Neste artigo, você acompanhará a explicação enquanto testa um simulador no navegador, “vendo” e “sentindo” essa probabilidade contraintuitiva.
Introdução
Quem nunca passou por isso: “eu sinto que deveria ser assim, mas o resultado matemático diz o contrário”? O problema de Monty Hall é um caso clássico em que intuição e lógica batem de frente.
Eu mesmo já acreditei que “fica 1/2 para cada porta no final”, e não aceitava a resposta oficial. Repeti milhares de tentativas no Excel até enxergar a taxa de 2/3 surgindo — só então entendi o porquê.
Este artigo recompõe e estende essa experiência, culminando em um simulador que roda direto no navegador para qualquer pessoa testar.
Regras do problema (versão com 3 portas)
- Das três portas, [uma tem o carro e duas têm bodes (perda)].
- Primeiro, a pessoa jogadora escolhe uma delas.
- Depois, a apresentadora — que sabe o conteúdo de cada porta — abre exatamente uma porta que contém um bode.
- Restam duas opções: a porta escolhida inicialmente e a outra porta ainda fechada.
- Na última etapa, a pessoa decide entre “manter a primeira escolha” ou “mudar para a porta restante”.
Por que a intuição falha?
A maioria pensa: “Sobram duas portas, logo a chance é 1/2 para cada.”
Esse raciocínio é enganoso.
- Na escolha inicial, a chance de acertar o carro é de apenas 1/3.
- Já a chance de ter escolhido um bode é de 2/3.
- Como a apresentadora sempre abre uma porta perdedora, a porta não escolhida concentra 2/3 de probabilidade de conter o carro.
- Portanto, manter a primeira escolha dá 1/3 de chance, e mudar de porta dá 2/3 — ou seja, o dobro de chance de vencer.
Entendendo pelo diagrama em árvore
Separamos os casos em um diagrama em árvore para visualizar melhor.
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Quando a primeira escolha acerta o carro (probabilidade 1/3)
- A apresentadora abre uma porta com bode.
- Se você trocar de porta, cai na opção errada e perde.
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Quando a primeira escolha pega um bode (probabilidade 2/3)
- A apresentadora garante que o carro permaneça fechado e abre um bode.
- Ao trocar, você passa para a porta com o carro e vence.
Resultado: trocar de porta dá 2/3 de chance de vitória, enquanto manter a escolha inicial dá 1/3.
Estendendo para N portas
O raciocínio se estende para qualquer número N de portas.
- Com N portas:
- Manter a primeira escolha rende 1/N de chance de vitória.
- Mudar de porta ao final rende (N−1)/N.
Imagine N = 100. A chance inicial de ter escolhido o carro é 1/100. As outras 99/100 representam escolhas erradas, e a apresentadora abre 98 portas mantendo o carro fechado. A porta remanescente concentra 99/100 de probabilidade de conter o prêmio.
Esse exemplo deixa ainda mais evidente o quanto mudar de porta é vantajoso.
Veja e compreenda com Excel e navegador
Rodar milhares de simulações no Excel mostra a taxa convergindo para 66,6% quando você sempre troca de porta. Isso coincide com a teoria.
Mas números sozinhos não criam intuição.
Por isso publicamos um simulador totalmente em navegador.
Destaques do simulador
- Modo manual: escolha as portas e veja a apresentadora revelando o bode diante de você.
- Modo automático: rode dezenas de milhares de tentativas em segundos e observe as probabilidades convergirem.
- Configuração de N portas (3 a 10 portas) para entender o problema generalizado de forma visual.
- Gráficos que comparam as estratégias de manter ou trocar.
Combinando intuição e estatística na prática, o problema de Monty Hall fica muito mais claro.
Objeções frequentes e cuidados
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E se a apresentadora não souber o conteúdo das portas e abrir uma ao acaso?
→ Existe o risco de revelar o carro, transformando em outro problema. -
E se a apresentadora seguir regras próprias para abrir a porta?
→ Se as regras forem conhecidas pela pessoa jogadora, as probabilidades condicionais podem mudar. -
“Restaram duas portas; não é 1/2 para cada?”
→ O ato de abrir uma porta perdedora fornece informação. As duas portas não são simétricas: uma vale 1/3 e a outra 2/3.
Resumo
- O problema de Monty Hall é um paradoxo aparente: parece 50/50, mas a lógica mostra um desequilíbrio claro.
- Considerando a informação fornecida pela apresentadora, a estratégia de trocar de porta é sempre mais lucrativa.
- Usando simulações em Excel e o simulador no navegador, você pode enxergar e sentir essa vantagem na prática.
Experimente por conta própria e supere o gap entre sensação e teoria.
Teste aqui → Monty Hall Simulator
Nota (republicação de um antigo rascunho)
Na época em que comecei a estudar o tema, repeti experimentos no Excel até formar a intuição de que “trocar de porta equivale a ter escolhido duas portas desde o início”. Este artigo é uma releitura expandida daquela experiência.
Curiosamente, quando o problema se popularizou nos Estados Unidos no fim dos anos 1980 por meio de uma coluna da revista Parade, a redação recebeu mais de dez mil cartas, muitas defendendo que “a chance é 1/2 para cada”.
Entre as mensagens havia protestos de professores, pesquisadoras e especialistas em estatística — até eles foram arrastados pela intuição e erraram a conclusão.
Esse episódio mostra como o problema de Monty Hall desafia nosso instinto e reforça a importância do raciocínio lógico.